Conheça as Mères de Lyon, cozinheiras francesas do século 18 que moldaram a gastronomia com propostas à frente de seu tempo

Conheça as Mères de Lyon, cozinheiras francesas do século 18 que moldaram a gastronomia com propostas à frente de seu tempo
Foto: Couleur/Pixabay

Quando o assunto é comida de alta qualidade, a cidade de Lyon, na França, é conhecida internacionalmente como um dos melhores centros gastronômicos do mundo. Não à toa, a região possui diversos restaurantes com estrelas Michelin, e recebe anualmente milhares de turistas em busca de excelência e variedade de produtos. 

Mas você sabe qual é a origem da gastronomia lionesa?

Voltemos então para o século 18. Sabemos que foi um período de grandes e profundas transformações. A Revolução Francesa, assim como o Iluminismo, alteraram toda uma estrutura política, econômica e social. Uma nova era começava na França, com a defesa de ideais de igualdade, fraternidade e, sobretudo, liberdade.

Mas pouco se estuda popularmente sobre os primórdios da cozinha profissional. Ao mesmo tempo em que ocorriam as guerras e revoluções, as chamadas Mès (mães) de Lyon foram as responsáveis por estabelecer as bases da gastronomia local. Elas nada mais eram do que mulheres lionesas que trabalhavam, sobretudo, para as famílias burguesas da região. Ainda que não tivessem educação formal, elas conheciam os sabores e técnicas tradicionais.

Contudo – após uma crise financeira em meados do século 19 – muitas dessas mulheres perderam seus empregos. Como resultado, essas mulheres – acostumadas a trabalhar uma vida inteira cercada de fogões e panelas – foram procurar emprego em restaurantes já estabelecidos. Outras, embora fossem conscientes do papel que a mulher desempenhava na sociedade da época, não se deixaram abalar pela besteira de que seriam incapazes de tocar os próprios negócios e não tivessem outra escolha senão serem donas de casa.

Resolveram então dedicar-se aos seus próprios restaurantes, que ficaram conhecidos como boûchons. Batizados com o nome das chefs, esses estabelecimentos foram repassados de geração em geração até os dias de hoje. Chegaram nas mãos de chefs renomados, como Paul Bocuse, Roger Vergé e Alain Chapel. Eventualmente, a clientela passou dos grupos populares aos mais ricos e influentes da sociedade. 

As Mères

Em 1890, Mère Filloux foi a primeira a ganhar reconhecimento com o seu trabalho. Sua cozinha, que só empregava mulheres, servia apenas um menu, repleto de pratos clássicos franceses. Entre eles, potage veloutè e quenelles gratinadas com manteiga de lagostim. Mas seu grande sucesso era o poulet demi-deull (frango caipira recheado com foie gras e servido com lascas de trufas entre a pele e a carne).

Mère Filloux. Fonte: Jpbrigand, via Wikimedia Commons

Outra a fazer história foi a Mère Brazier. Nascida em 1895, trabalhou como empregada doméstica e cozinheira para uma família abastada. Depois, trabalhou com Mère Filloux, mas a parceria durou pouco, pois ambas tinham temperamento muito forte. Por isso, em 1921, Brazier abriu seu primeiro restaurante, situado na Rua Royale 12, com 15 lugares. Em 1933, ela se tornou a primeira mulher a ganhar três estrelas Michelin. A conquista se repetiu quando inaugurou seu segundo restaurante, o Col de la Luere, nos Rhônes-alpes. Totalizando seis estrelas no famoso Guia gastronômico, é considerada mãe da cozinha francesa moderna. Além disso, Brazier foi mentora de chefs aclamados, incluindo o célebre Paul Bocuse.


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